Ao contrário do que diz a lenda, não foi D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431) que deu nome a Sousel, pois um século antes, no Foral Medieval de Estremoz (1258), D. Afonso III faz referência aos Reguengos de Sousel.
A vila de Sousel e seu termo foi comenda da Ordem de Avis e consta que os primeiros povoadores de Sousel, por volta do séc. XIII, foram principalmente fidalgos em virtude de doações reais de grandes extensões de terrenos. Na verdade, a simples ocupação do território vago após a Reconquista Cristã, foi razão suficiente para muitas doações reais a nobres e fidalgos e, principalmente, a ordens religiosas e/ou militares.
D. Nuno Álvares Pereira entra, de facto, na história de Sousel no contexto da crise dinástica de 1383-1385. Como comandante do exército nacional, a vitória na Batalha dos Atoleiros – o primeiro confronto entre os exércitos português e castelhano –, marca o início do seu sucesso militar. Mestre de Avis sobre ao trono como D. João I e os bens da Ordem da Avis são integrados na Coroa. Em virtude dos bons serviços prestados à nação, D. João I agracia D. Nuno com diversos privilégios e doações, entre as quais Sousel (1408).
A Casa de Bragança passa a ser donatária da Vila de Sousel, em 1422, através de uma importante e avultada doação feita por D. Nuno e que se mostra confirmada por El Rei D. Duarte, por carta de nove de Dezembro da Era de 1430, pela qual cedeu ao Duque, o Sr. D. Fernando I as rendas e os direitos da Villa de Estremôz, da Villa de Souzel. (D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Lisboa, 1735-49, Tomo 3º, p. 518).
Esta doação foi assim feita de juro e herdade para o Sr. Duque D. Fernando, neto do Condestável e para todos os seus filhos, e netos e descendentes, que delle descenderem, que sejam lídimos; por consequência, ficaram estes bens incorporados aos da Fundação da Casa de Bragança. Esses bens viriam ampliar o já imenso património da Casa de Bragança, nessa altura, propriedade de D. Fernando, 2.º Duque de Bragança, neto de D. Nuno Álvares Pereira. A Casa de Bragança tornou-se assim na Casa mais rica de Portugal, com dezoito alcaidarias, entre as quais, Sousel.
Com a Reforma dos Forais, levada a cabo por D. Manuel I, sabe-se que Sousel teve Carta de Foral, publicada em 13 de Fevereiro de 1515. Na primeira metade do século XVIII, o município era governado no cível por um juiz de fora, três vereadores, um escrivão de câmara, um procurador do Concelho, um juiz dos órfãos com o seu escrivão e dois tabeliães do judicial e notas. O termo de Sousel era abundante em pão, azeite, frutas, caça e gados. Tinha também algum vinho e muitos montados e colmeias. Integrava uma paróquia dedicada a São João Baptista (São João da Ribeira) que, por sua vez, tinha como ermidas anexas: São Pedro, São Lourenço, São Miguel e São Bartolomeu da Serra.
Antes de serem incorporadas no Concelho de Sousel, as freguesias de Cano e de Casa Branca constituíram um Concelho à parte, com sede administrativa na primeira povoação. Primeiramente, Casa Branca pertencera ainda ao Concelho de Avis. O Concelho da Vila de Cano obteve foral a 1 de Novembro de 1512 e foi extinto a 26 de Dezembro de 1826, tendo passado a integrar o vizinho Concelho de Sousel desde essa data.
Em 1842, o Concelho de Sousel era constituído pelas freguesias de Sousel, São João da Ribeira, Cano e Casa Branca e tinha, na totalidade, 1051 fogos. O Concelho de Sousel foi extinto duas vezes: primeiro, com a Grande Reforma Administrativa Municipal de 1855, integrando a Comarca e Concelho de Fronteira (viria a ser restaurado pela Lei de 10 de Julho de 1863) e, depois, através da Reforma Administrativa de 26 de Setembro de 1895, sendo, desta vez, anexado ao Concelho de Estremoz.
O Município foi definitivamente restaurado a 13 de Janeiro de 1898, englobando as freguesias de Cano, Casa Branca e Sousel. Com o Código Administrativo de 1896, a freguesia São João da Ribeira havia sido extinta e o seu território anexado à freguesia de Sousel. A freguesia de Santo Amaro só foi anexada ao Concelho de Sousel pelo Decreto-Lei n.º 22009, de 21 de Dezembro de 1932, integrando anteriormente os Concelhos de Veiros, primeiro, e de Fronteira, depois.
Imagem:
«Carta da Fronteira entre o Alentejo e a Estremadura Espanhola», séc. XVII [excerto]