Relativamente ao curioso topónimo da freguesia, vários autores concordam com a explicação de que «foi da civilização romana que Cano herdou o seu nome, do latim Cannum, local de passagem de águas abundantes, foi a imagem natural e espontânea que borbulhou no espírito de quem queria batizar a terra onde se fixava e que lhe oferecia essas características» [J. Falcato. Brados do Alentejo, 1951]. Em estudos recentes, o Prof. João Richau levantou sérias dúvidas sobre a origem deste topónimo, não obstante característica acima descrita aparecer descrita ainda durante o séc. XX: «tal é a abundância de águas dentro da povoação que é dado aos seus habitantes o grande benefício de terem a fonte em sua casa» [Álbum Alentejano, Tomo III].
De acordo com o Prof. Richau a referência escrita mais antiga a Cano aparece num documento datado de 1260 e, aí, aparece exatamente com a grafia que hoje conhecemos. As dúvidas apresentadas pelo supracitado autor prendem-se com o facto de associar a palavra “cannum” a um local de águas abundantes pois, segundo ele, as palavras latinas com grafias aproximadas a essa têm significados totalmente distintos (“canum” relativo a cães; “canus” relativo a cabelos brancos; e “cano” relativo a cantar ou tocar instrumento musical). A hipótese mais forte prende-se com uma eventual origem árabe do topónimo, relacionando-o com a palavra “qanāt” que significa “túnel subterrâneo para irrigação”, pois afloramentos de água subterrânea sempre existiram nesta zona.
Se quisermos considerar uma proveniência latina do topónimo, o Prof. Richau defende que teremos de ir à palavra “canna” (uma vez que “cannum” só existiria por declinação). Dependendo do contexto, “canna” pode significar junco, cana ou caniço, entre outros significados, e neste caso o significado seria derivado da existência destas espécies vegetais que aliás são muito comuns em zonas alagadas.
Apesar da discussão sobre a origem do topónimo “Cano” ficar em aberto, certo é que esta povoação terá sido a mais antiga povoação do Concelho de Sousel. No Sítio da Represa foram encontrados vestígios de um antigo povoado, tais como alicerces, blocos de granito facetado e o resto de uma antiga barragem, vulgarmente denominada Ponte de Mouros.
Cano pertenceu à Ordem e Comarca de Avis, foi sede de Concelho durante mais de quatro séculos e teve foral concedido por D. Manuel, em Santarém, no dia 1 de Novembro de 1512. Teve Câmara e cadeia. Em 1527, segundo o Cadastro da População do Reino, o Concelho contava apenas com a freguesia de Cano, com 114 moradores na vila e 10 casais no seu termo. A atual Misericórdia, fundada pelo povo no século XVI, derivou da albergaria que o Rei D. Manuel I fundou na vila. O Concelho de Cano foi extinto a 23 de Dezembro de 1836, passando a integrar o vizinho Concelho de Sousel desde essa data. Tinha, na altura, 236 fogos e 871 habitantes, e compunha-se das freguesias de Cano e de Casa Branca.
Nos anos 30 do século XX, a população da freguesia de Cano ocupava-se da faina agrícola e pecuária. A freguesia produzia e exportava, em abundância, cereais, legumes, cortiça, carvão e gado suíno de engorda. No entanto, a sua maior riqueza eram os extensos olivais que lhe permitiam a exportação de azeite, havendo na altura dez lagares apropriados para o fabrico do mesmo.